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terça-feira, 3 de julho de 2018

Eu tive tireoidite pós parto - minha experiência

Olá pessoal, tudo bem?

Precisei tirar um tempo e escrever este post para as minhas amigas que frequentemente se queixam de cansaço extremo, depressão, irritabilidade, insônia e perda de peso, o que associamos diretamente às dificuldades de se cuidar de um recém nascido e à amamentação. Claro que são fortes fatores que podem desencadear esses sintomas, mas como passei pela experiência de ter disfunção na tireóide, logo acende uma luzinha na minha mente e oriento a pessoa a fazer exames da tireóide.


Hoje vou escrever sobre um distúrbio que tive na tireóide no meu pós parto: a Tireoidite pós-parto

Três meses após o parto eu fui num nutrólogo, fazer exames, para ver se precisava reajustar minha suplementação. Eu estava no auge da Tireoidite pós-parto, perdendo peso rapidamente, mas estava associando isso à amamentação. Também tinha uma leve irritabilidade e cansaço, o que eu novamente associava às dificuldades de se ter um recém nascido em casa. Um sintoma mais forte que eu tinha eram as evacuações frequentes.

Fiz exames da tireóide 3 meses pós parto. Quando eu peguei o resultado dos meus exame, me desesperei ao ver meu TSH cujo resultado deu "inferior a 0,05 uIU/ml". Consultei uma endocrinologista que de cara mencionou a possibilidade de tratamento cirúrgico e com isso a necessidade de tomar medicações não compatíveis com a amamentação. O pediatra do meu filho Arthur, que tinha 3 meses, foi enfático em dizer que o caso era sério e minha saúde estava acima da necessidade dele ser amamentado. Mas ele tinha apenas 3 meses e eu não tinha nenhuma intenção de desmamá-lo e dar leite artificial. A amamentação sempre fluiu de forma perfeita para nós e sempre amei amamentar. Eu não conseguia acreditar que isso estava acontecendo comigo. Passei muitas madrugadas estudando e lendo artigos. Minha ansiedade foi a mil! A primeira coisa que eu fiz, após pegar o resultado dos meus exames de tireóide, foi parar o Lugol que eu estava já tomando há pelo menos 2 anos, juntamente com 100 mcg de selênio. Eu sabia que de alguma forma, se não era ele o culpado, sem dúvida ele estava contribuindo para piora do caso, pois minha tireóide estava saturada de iodo. A segunda coisa que eu fiz foi marcar consulta com um médico homeopata.

Ajudou-me muito entender que a Tireoidite pós-parto geralmente é uma condição passageira e transitória e nem todos os casos exigem tratamento. Geralmente, dentro de 1 ano, a tireóide volta à sua função normal (em alguns casos pode ocorrer um hipotireoidismo permanente). Dessa forma, após pegar o resultado dos exames, fui até um médico homeopata. Ele me passou algumas homeopatias e me orientou a repetir os exames 40 dias depois do início do tratamento homeopático. E sou tão feliz em dizer que tomei a melhor decisão (parar o lugol e fazer o tratamento homeopático).
Realizei novamente exames 5 meses pós parto: o TSH continuava muito baixo, porém o T3 e o T4 haviam melhorado, aliás, estavam em patamares normais. Vale lembrar que logo que descobri essa condição, parei de suplementar com lugol (iodo), o que poderia piorar a situação (ou ser a causa desse hipertireoidismo).

Meus exames

3 meses pós parto:
TSH: inferior a 0,05 uIU/ml
T4 LIVRE: 1,92 ng/dl

Parei o lugol e após 40 dias tomando homeopatia própria para hipertireoidismo, repeti os exames.

5 meses pós parto:
TSH: 0,005 uIU/ml
T4 LIVRE: 1,060 ng/dl
T3 TOTAL: 0,81 ng/ml

Mesmo tomando homeopatia e parando o Lugol, meu TSH piorou! De 0,05 uIU/ml foi para 0,005 uIU/ml. Questionei-me o motivo do TSH tão baixo mesmo após a normalização do T3 e T4 e encontrei vários sites médicos informando que o TSH realmente demora alguns meses para normalizar, mesmo o T3 e o T4 já terem normalizado. Ah, eu também parei de emagrecer. Estava emagrecendo MUITO e rápido, mas nesse período meu peso estabilizou.

Sete meses pós parto (meados de junho/2018) passei a desenvolver os sintomas do hipotireoidismo, como: inchaço, ganho de peso, fraqueza e pele seca. Porém hoje acredito que esses sintomas eram de alguma outra deficiência. Repeti os exames e o resultado foi uma grata surpresa. O TSH finalmente havia equilibrado e atingido valores ideais. Aliás, vale repetir, que há muito tempo não tenho um TSH tão bom!

7 meses pós parto:
TSH: 1,49 uIU/ml
T4 LIVRE: 1,020 ng/dl

No início de julho/2018 escrevi um e-mail em inglês para o Dr Jorge D. Flechas, grande especialista em suplementação de iodo. Perguntei a ele se minha tireoidite pós parto poderia ter sido causada pela suplementação de iodo e ele me respondeu: A tireoidite pós-parto, na maioria das vezes, acontece devido a baixos níveis de selênio na mãe. Tomar iodo não induz a tireoidite após o parto. Porém eu suplementei selênio na gravidez, na forma de selenometionina 100mcg.

No final de julho/2018 fiz um US da tireóide que o homeopata passou e fiquei bastante triste ao constatar que havia um nódulo! Segundo o exame, "imagem nodular hipoecogênica, de contornos regulares, medindo cerca de 0,4 x 0,3 cm em terço médio do lobo direito, apresentando vascularização periférica". Após pegar o laudo, meu médico homeopata então me encaminhou para uma endocrinologista. Ela viu os exames de sangue, disse que estava tudo normal e viu também o US da tireóide. Me tranquilizou bastante, disse que grande parte da população tem nódulos e que eu ficasse despreocupada. O nódulo é muito pequeno, não devemos fazer nada, apenas acompanhar com exames e US a cada 6 meses.

Em meados de fevereiro/2019 (14 meses pós parto) repeti os exames de sangue e continuam ótimos.

14 meses pós parto:
TSH: 1,274 uIU/ml
T4 LIVRE: 0,87 ng/dl

Após pesquisar muitoooooo sobre essa condição, penso que talvez tenha encontrado uma resposta no livro "Iodine: Why You Need It, Why You Can't Live Without It" (Iodo: Por que você precisa dele e porque você não pode viver sem ele) do Dr David Brownstein, outro grande especialista em suplementação de iodo. Na seção IODINE-INDUCED HYPERTHYROIDISM" (hipertireoidismo induzido pelo iodo), ele diz:
Quando faço palestras para médicos, digo-lhes que uma condição particular pode predispor ao hipertiroidismo induzido por iodo. Esta condição ocorre em um paciente que tem um nódulo autonomamente funcional em sua tireóide. Às vezes isso é chamado de "nódulo quente" em um ultrassom da tireóide.
Um nódulo de funcionamento autônomo não está sob o controle de retroalimentação da hipófise e do hipotálamo. Funciona independentemente da glândula tireóide. Quando o iodo está presente, esses nódulos podem absorver o iodo e produzir grandes quantidades de hormônio tireoidiano, levando ao hipertireoidismo.
Esta condição pode ser diagnosticada com um ultrassom da tireóide. No entanto, é mais freqüentemente diagnosticado após um teste de iodo e o paciente se torna hipertireoidiano após tomar as primeiras doses.
Como você trata um paciente com um nódulo tireoidiano de funcionamento autônomo? Esses pacientes devem evitar suplementos de iodo e alimentos (como algas marinhas) com alto teor de iodo até que o nódulo seja removido cirurgicamente. 
Fonte: BROWNSTEIN, David, MD. Iodine: Why You Need It, Why You Can't Live Without It. Fifth Edition, 2014, Medical Alternatives Press. Tradução de trecho.

Infelizmente, quando mandei o e-mail para o Dr Jorge D. Flechas, eu ainda não havia feito o US da tireóide. Talvez a resposta dele fosse diferente, tendo essa informação.

[ATUALIZAÇÃO OUTUBRO/2023]

Em 2020 engravidei novamente. Tive diabetes gestacional e uma bebê que nasceu grande para a idade gestacional. Minha tireóide teve um comportamento típico e esperado durante toda a gravidez e o pós parto.

Em agosto/2023 realizei novo ultrassom da tireóide, além de exames de sangue.

TSH: 2,1132 uIU/ml
T4 LIVRE: 0,97 ng/dL 
ANTI TIREOPEROXIDASE: Não Reagente
ANTI - TIREOGLOBULINA: Inferior a 0,90 UI/mL
T3 TOTAL: 0.81 ng/mL
T3 - TRIIODOTIRONINA REVERSO: 0,16 ng/mL
ANTICORPO ANTI RECEPTOR DE TSH - TRAB: Inferior a 1,26 UI/L 

No Ultrassom da tireóide com doppler, "um pequeno nódulo hipoecoico com calcificações centrais e periféricas, medindo 0,4 cm x 0,4 cm no 1.3 médio posterior lateral do lobo." Segundo o endocrinologista que me acompanha, meus exames estão excelentes.

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Seguem informações sobre a Tireoidite pós-parto.

O que é Tireoidite pós-parto? Definição do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia:
Cerca de 5 a 10% das mulheres manifestam hipertireoidismo leve a moderado alguns meses após o parto. (No Brasil, estudos mostram que a incidência é de 13, 3%). Nesses casos, o distúrbio costuma durar de um a dois meses e, freqqentemente, é seguido por vários meses de hipotireoidismo antes do organismo se normalizar espontaneamente. Entretanto, em alguns casos, a tireoide não se recupera, e o hipotireoidismo se torna permanente, sendo necessária a reposição hormonal ao longo da vida. Fonte.
PRIMEIRA FASE. Tireoidite pós-parto com hipotireoidismo (sintomas de tireóide com pouca atividade):
Aproximadamente 25-45% das mulheres que desenvolvem Tireoidite pós-parto apresentarão os sintomas de uma tireoide pouco ativa. Ocorre entre 2 e 12 meses pós-parto e é mais comumente diagnosticada com 6 meses. Já o hipotireoidismo que se manifesta 1 ano após o parto não costuma ser atribuível a tireoidite pós-parto. Os sintomas podem incluir:
  • Fadiga
  • Perda de concentração
  • Memória fraca
  • Constipação
  • Possivelmente depressão
SEGUNDA FASE. Tireoidite pós-parto com hipertireoidismo (sintomas de tireoide com excesso de atividade):
Entre 20% e 30% das mulheres que desenvolvem Tireoidite pós-parto apresentarão sintomas de uma tireoide com atividade excessiva.  Em 33% das pacientes, o hipertireoidismo pode ser assintomático (eu tive bem poucos sintomas, a maioria associei à amamentação e estresse pós parto). Os sintomas podem incluir: 
  • Fadiga
  • Palpitações
  • Perda de peso
  • Evacuações freqüentes
  • Intolerância ao calor
  • Nervosismo
  • Insônia
  • Ansiedade e irritabilidade.
A Tireoidite pós-parto com hipertireoidismo geralmente ocorre nos primeiros 6 meses após o parto (frequentemente em torno de 3 meses, como foi meu caso) e geralmente dura entre 1 e 2 meses.

Concluída a fase de hipertireoidismo, em seguida ocorre o hipotireoidismo, que por sua vez pode causar os seguintes problemas de saúde abaixo: 
  • Inchaço
  • Dor muscular e fraqueza
  • Prisão de ventre
  • Ganho de peso inexplicável
  • Pele seca
  • Voz rouca
TERCEIRA FASE. Reestabelecimento do normal funcionamento da glândula tiroideia
Nessa terceira fase ocorre a normalização dos hormônios tireoidianos e o desaparecimento de todos os sintomas. ontudo, em cerca de 30% dos casos a função tiroideia permanece diminuída, dando origem a uma doença crónica (permanente).

Tratamento:
Em relação à fase do hipertireoidismo, nenhum estudo demonstrou benefício na realização de tratamento nesta fase, apesar da possibilidade do hipertireoidismo subclínico afetar a qualidade de vida. O tratamento só é indicado em pacientes muito sintomáticas, para as quais se indica o uso de betabloqueadores por menos de 3 meses. Não se devem utilizar tioureias.

Na fase de hipotireoidismo, as pesquisas mostram que 15 a 75% das pacientes necessitam de tratamento. As principais indicações são valores de TSH acima de 10 u/L e hipotireoidismo sintomático. Já em pacientes que engravidam novamente durante a fase hipotireóidea, é necessário realizar o tratamento, pois a ausência deste aumenta a taxa de abortos espontâneos e o hipotireoidismo pode afetar a capacidade intelectual dos bebês. Em geral, o tratamento visa a manter o TSH abaixo de 10, com dose inicial de 50 mcg de levotiroxina por até 1 ano, sendo monitorado conforme sintomas e níveis de TSH.

Relação entre a ingestão de Lugol (iodo) e Tireoidite Pós Parto
Minha suspeita sempre foi de que a tiroidite pós-parto estivesse relacionada ao Lugol (suplemento de iodo) que fiz uso na gravidez (totalizando 2 anos e meio de ingestão do suplemento, 1 ano e meio antes da gravidez). As pesquisas mostram que países com uma elevada ingestão de iodo através da alimentação apresentam mais casos de tiroidite pós-parto.
Artigos: 
ATENÇÃO: As mulheres que desenvolvem tireoidite pós-parto têm um risco de 25% a 30% de desenvolver hipotireoidismo permanente dentro de 5 a 10 anos e devem ser examinadas em intervalos regulares.

Fontes:

4 comentários:

  1. Anne obrigada por partilhar! Espero que recupere bem e rápido. É incrível a relação da toma do Lugol com a tiroidite! Um abraço

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    1. Obrigada pelo carinho!
      Assim que possível vou postar sobre os próximos passos do tratamento.

      PS - desculpe a demora em responder, tive um problema com os comentários do blog que não apareciam.

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  2. Anne, boa noite! Minha médica (ginecologista- ortomolecular) ela passou pra o lugol 5% tomar 1gt pela manha e 1gt a noite. Depois que lê seu post fiquei um pouco assustada.
    Obs: estou com 5 semanas.
    Melhoras pra você é fica com Deus.

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  3. Anne, muito bom seu artigo!
    Não sei se foi falha ou falta de informação não ter feitos os exames da tireoide antes do início do Lugol, tomado a dose adequada aos exames, a suplementação de suporte, o acompanhamento Laboratorial a cada 6 meses e o uso do selênio a 200mcg e não 100. O nódulo funcionante, com Lugol ou não produziria hormônio da mesma forma da mesma forma, a maioria dos casos no grupo de nódulos são de hiper por esse motivo. Melhoras a vc!

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