sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Relato-desabafo da Luzia: 10 anos de tentante, 3 gestações ectópicas e esperança na FIV

Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas isso não só é um mito, naturalmente falando, como é uma grande ilusão. E três vezes? É possível um raio cair 3 vezes no mesmo lugar? É possível que uma pessoa passe por 3 vezes pela dor da gestação ectópica?

Nem todo relato é de positivo, nem todo relato é de alegria. Foi assim que eu comecei aquele post de setembro de 2017:

Neste relato de 2017 a Luzia nos conta a sua dor e a tristeza pela descoberta da gravidez ectópica, por   2 vezes. Hoje, ela conta como é passar por isso pela terceira vez.
Ectópica significa "no lugar errado", portanto a gravidez ectópica é uma gestação que se desenvolve fora do útero e que é, portanto, inviável. 
Na maioria dos casos de gravidez ectópica, a implantação acontece em uma das tubas uterinas (ou trompas de Falópio), e por isso ela também é conhecida como gravidez tubária. Fonte.

Leiam o relato da Luzia.


Olá meninas,
Só Deus sabe o quanto eu desejaria está aqui escrevendo o relato do meu milagre, do meu positivo, mas os planos de Deus são maiores e melhores que os meus e Ele faz hoje para entendermos lá na frente. Acredito que tudo que acontece tem um propósito maior.
Meu nome é Luzia, tenho 39 anos (prestes a fazer 40) e nas próximas linhas descreverei um pouco da minha história de tentante.
O sonho de ser mãe me acompanha desde a adolescência, eu sempre dizia que com 25 já queria ser mãe e com 30 já queria ter o segundo (sabe de nada inocente!). Tive poucos namoros sérios e estes poucos eram visivelmente claros que não seguiriam adiante e o sonho da maternidade ia ficando cada vez mais distante.
No ano de 2006 conheci meu esposo (o ano que eu queria ter meu primeiro filho (a), rsrs). Começamos a namorar em julho e ele desde o início dizia que eu seria a mãe dos filhos dele e que iria casar comigo (eu não acreditava, rsrs e sempre dizia, vamos com calma porque começamos a namorar faz pouco tempo, mas ele insistia que eu era a mulher da vida dele e eu sempre dizia que ele só colocaria uma aliança de noivado no meu dedo quando tivesse mais ou menos uma previsão de quando iríamos nos casar, porque eu já estava com 26 anos e não ia esperar 10 anos pra poder casar não). Resultado: em dezembro do ano seguinte, com 1 ano e 5 meses de namoro, nós noivamos e 1 anos e 4 meses depois, em abril de 2009, nos casamos.
De início minha mãe me dizia: espere uns 5 anos para poder pensar em ter filhos pois casamento é complicado, é uma doação diária e as vezes pode não dá certo, então espere um pouco para ver se vai dá certo mesmo pra poder pensar em filhos (eu só olhei e disse: posso até esperar um pouco mãe, mas não por esse motivo e sim para nos estabilizarmos melhor). Com isso, em janeiro de 2011 eu decidi que ia namorar com gosto no período fértil (não tomava AC, fazíamos tabela), e iludida eu, pensava que sempre que estava com muco eu estava ovulando e podia engravidar. Algumas vezes a menstruação atrasou, corria pra fazer teste e o negativo batia à porta. Aguardei mais uns anos assim, e a GO dizia que era normal e qu eu ainda tinha tempo. Nessa fui leigamente esperando, até que em 2014 (coincidentemente com 5 anos de casada eu resolvi não esperar mais e troquei de GO). O novo me passou clomid e acompanhamento com ultra seriada, passou tb histerossalpingografia (que deu prova de cotte positiva bilateralmente, ou seja pelo exame estava tudo ok nas trompas. Primeiro ciclo, mais um negativo, segundo ciclo foi outro negativo e no terceiro e último ciclo, o sonhado positivo chegou em dezembro de 2014. Foi aquela felicidade (presentinhos para os avós e tios, avisando da chegada do novo membro da família, uma alegria imensurável); felicidade essa que durou pouco tempo. Em janeiro de 2015, com quase 9 semanas descobrimo que era uma ectópica na trompa direita (nosso mundo desabou), mas que bom que descobrimos há tempo. Usamos o metotrexato e resolveu, com menos de um mês meu beta já estava zerado e não havia mais nenhum indício de que eu estive grávida. Agonia passada, mente tranquila, vamos dar uma pausa para o organismo ficar livre totalmente do medicamento, tempo estimado de 3 meses.
Passado isso, comecei a acompanhar com ultrassom todos os meses para evitar quando estivesse ovulando pelo ovário direito (pois de início a trompa direita ficou obstruída). Foram vários meses, pelo que lembro devo ter feito de maio à novembro ou dezembro (um ciclo foi anovulatório e os demais, 80% eu ovulei pelo ovário direito justamente por ele). Após isso conheci o blog Projetanto um bebê e entrei no grupo G2 (que se tornou uma família amada e querida) e vi que eu não sabia de nada. Fui conferir os exames que ja tinha feito e vi que faltavam vários, principalmente os de trombofilia que eu nunca tinha feito.
Iniciamos 2016 e com ele resolvi mudar de plano de saúde e teria que esperar pelo menos mais 3 meses para poder voltar as tentativas. Passados os 3 meses eu comecei a tentar novamente e nada (já conhecendo melhor o meu corpo e medindo a TB, além de começar a tomar o chá de amora que eu amei e amo, ainda era um pouco reticento nas suplementações, mas fui iniciando aos poucos), o tempo foi passando e procurei um especialista em videolaparoscopia para investigar melhor. Detalhe: passei quase 4 meses só esperando para a consulta e simplesmente a correria do dia a dia e problemas de saúde com pessoas da família me fizeram esquecer completamente a consulta e só lembrei quase um mês depois, resultado: chegou o final do ano e o médico só ia voltar a atender a partir de fevereiro (porque ia tirar uns dias de férias e também participaria de uns congressos e só retornaria em fevereiro). Entrei em contato em fevereiro de 2017 e consegui marcar a consulta para início de maio (porém o médico teve um problema pessoal e adiou algumas consultas e esta só veio a acontecer em junho). Ele de imediato me indicou logo a FIV por causa da idade. Mas insisti que gostaria de investigar e então ele passou vários exames e risco cirúrgico para fazermos a videolaparoscopia, com os exames em mãos, retornei e marcamos a video para 28 de agosto.
Meu primo estava com câncer e veio a falecer no dia 10 de agosto (ai comecei a ter um sangramento estranho, tipo borra de café, porém eu achava que eram os hormônios que estavam alterados devido a perda dele, ele era como um irmão e muito jovem ainda. Porém foram passando os dias e o sangramento foi ficando mais intenso, porém um sangue quase preto, horrível. Estava se aproximando da cirurgia, faltava uma semana e decidi fazer um teste só pra poder falar com o médico se seria necessário adiar ou tomar algum remédio, enfim; fiz o teste na certeza de que não estava grávida (e justo nesse mês, que eu estava com a cabeça a mil com o quadro do meu primo que só piorava, com a cirurgia já marcada, eu não fiz gráfico e namorei uma única vez. Ai para a minha surpresa estava lá fortão as duas linhas. Como assim? estou com tudo pronto, inclusive as guias de internação, tudo pronto para a cirurgia. Mas ao mesmo tempo comecei a agradecer a Deus pelo presente maravilhoso e que o bebê seria um bálsamo para a nossa família após a perda do meu primo.
Pela experiência da primeira eu corri e marquei ultra de emergência já, só pra me certificar que estava no lugar certo e para a nossa surpresa, lá estava outra ectópica, dessa vez na trompa esquerda. Nosso mundo caiu mais uma vez. Corremos e fomos fazer uso da mesma medicação, na esperança de que se resolvesse e assim fizemos. Tomei a medicação em um dia e no dia seguinte teria alta, mas quando estava pronta pra receber alta, comecei a passar mal e sentir dores fortes, infelizmente minha trompa rompeu e eu estava com hemorragia interna grande. Fui levada às pressas para o bloco cirúrgico e recebi uma notícia péssima: tiveram que retirar o que restou da trompa esquerda e o ovário porque ela rompeu bem próximo à ele e segundo os médicos, o comprometeram muito. Meu mundo caiu mais uma vez.
A partir dai decidi que não tentaria mais, e resolvemos partir para a adoção, pois não queríamos mais arriscar a minha vida. Meu marido só dizia isso: não quero que você passe por aquilo de novo, morri de medo de te perder, podemos ter filhos de outra forma, vamos adotar. Ele não queria no início, mas depois do que passamos ele abriu a mente e embarcou comigo nessa. Demos entrada no processo, participamos do curso e fomos habilitados em janeiro de 2019.
Quando demos entrada na Vara da Infância, nós procuramos uma especialista em reprodução e partimos para a FIV. Ai sim, ela me passou todos os exames que eu ainda não tinha feito (ou melhor quase todos). Um fan reagente 1:80 e depois não reagente. Fizemos, mesmo sem condições mas fizemos (com um único ovário, uma única estimulação, coletaram 12 óvulos, destes, 10 maduros, 8 fertilizaram, 5 chegaram a blastocisto, porém, por questões financeiras e até religiosa também, resolvemos não fazer biópsia, em parte me arrependo, mas sigo no mesmo ponto: o que Deus preparou para nós, é o que teremos que passar.
Com os exames ok, vamos implantar (primeira implantação de 2 embriões em maio de 2019, negativo que me desestruturou), mas logo eu estava de pé novamente. Porém decidi viver intensamente mais um pouco antes de partir para a segunda TEC. Vamos nos prepara para a segunda transferência. Fiz um tratamento fubeca para endometrite (porque não acusou na biópsia que eu fiz; fiz injúria endometrial), mas memso assim ela passou uns antibióticos, probióticos, enfim, fui até mais confiante que a primeira vez, implantamos mais 2 (ia implantar só um, o que estava sozinho em uma palheta, mas depois decidimos implantar os dois que estavam juntos na mesma palheta, em fevereiro deste ano), outro negativo que nos derrubou.
Quando ainda estava me recuperando psicologicamente, veio a pandemia e tudo parou. Em julho a médica entrou em contato comigo para começarmos o preparo. Ai ficou de me mandar as guias para repetir todos os exames, mas não mandou e nisso eu relaxei de novo, enquando aguardava as solicitações dos exames e em 11 de setembro peguei outro positivo, logo pensei, dessa vez vai dá certo (as promessas e as proclamações que muitos tiveram comigo, estão se cumprindo. Busquei muito me entregar à Deus, o tempo todo, em todos os momentos, busquei sempre fortalecer a minha fé e comecei a crer com todas as minhas forças que a promessa de Cristo estava se cumprindo em nossas vidas). O beta começou baixinho e dobrou a cada 48h (os 3 primeiros), dois dias depois tive um sangramento diferente, tipo água rosada, os médicos disseram que poderia ser pelo ultrogestan. Fiquei acompanhando e repeti o beta e progesterona (ambos diminuíram consideravelmente, fui ao chão novamente). Marquei uma ultra para ver se via algo e nada foi visualizado, daí o médico pediu pra repetir o beta e ver o valor que estava, que se estivesse acima de 1.500 teríamos que ver algo no útero. Fui e repeti, ele tinha aumentado mas não dobrado (o médico suspeitou que estava dobrando a cada 72h e realmente era isso que estava acontecendo). Dai repeti a ultra com uns dias depois e foi visualizado que era novamente outra ectópica, não conseguia mais nem dizer que o meu mundo desabou de novo. Corremos para aplicar a medicação novamente, aplicamos numa quinta e na sexta repeti o beta e ele estava aumentando, assim como o embrião; daí o médico pediu para aguardarmos até a terça para aplicarmos uma segunda dose, porém no domingo o beta aumentou novamente e comecei a sentir fisgadas mais fortes. Na segunda cedo fui repetir a ultra e ele havia diminuído em um dos lados e aumentado do outro. Porém optamos por não aguardar para não ter riscos de romper e marcamos uma videolaparoscopia para o mesmo dia no final da tarde. Assim foi feito.
Fiz a videolaparoscopia, o médico retirou o embrião e tentou de tudo para desobstruir a trompa, porém ele disse que não conseguiram. Até ligaram por vídeo para outro especialista para que ele visualizasse e desse uma segunda opinião também, mas ele foi direto: melhor seria a retidada da trompa, pois qualquer gravidez natural se alojaria lá e seria um risco para minha vida. Então foi retidara a trompa direita também. Foi uma queda de um precipício, pois naturalmente, esgotaram-se as chances. Eu estou até serena em relação a isso, mas a ficha começou a cair mesmo há quase 15 dias atrás quando eu tive uma infinidade de muco, como nunca tinha tido na minha vida, era muco de escorrer pela perna, ai a ficha foi caindo que nada daquilo adiantaria mais para mim, enfim. Foi uma tristeza grande, mas o conforto vem dos anjos que tem rezado por mim, da minha fé em Deus, do apoio incondicional da minha família e do meu amado esposo.
Tenho mais um embrião para implantar (agora só posso fazer após passar o mínimo de 3 meses do uso do remédio, o que acontecerá em janeiro de 2021). Não fiz o exame das NK's e já exigi da médica que quero fazer, que só transfiro após fazer as nk's e outro protocolo para endometrite que eu vou passar pra ela a fim de que ela analise (e se ela não concordar eu vou atrás de outro e em último caso peço a uma prima minha a receita das medicações), mas não vou implantar com a cara e a coragem não.
Bom meninas é isso. Desculpa o texto gigantesco, mas eu ainda resumi. Mas achei importante compartilhar para que fique o alerta a todas também.Sonhamos, acreditamos, fazemos a nossa parte, mas quem dá a última palavra é sempre Deus, disso não temos como fugir jamais. 
É super importante (digo por experiência própria), estarmos sempre preparadas para aceitar a vontade de Deus para as nossas vidas. Meu esposo me disse algo que jamais esquecerei. Ele falou quando descobrimos essa última vez que era outra ectópica: "amor, nós planejamos, mas o plano de Deus é maior que o nosso; nós nos cuidamos, fazemos tudo certinho, buscamos a Deus e cumprir a palavra D'Ele, mas não sabemos qual a real vontade D'Ele para as nossas vidas. Somos felizes desde que nos conhecemos, nos damos muito bem, queremos nosso (s) filho (s), mas Deus irá nos mostrar como e se é isso que Ele quer para nós. Pode ser que nosso filho venha pela FIV (o embrião que ainda temos), pode ser que venha pela adoção (Até mesmo mais de um porque colocamos que aceitamos irmãos) e pode ser que não venha de jeito nenhum e temos que está preparados para aceitar sem questionar, porque temos muito mais motivos para sermos gratos: temos uma casa, temos comida, temos família, temos saúde, temos trabalho. Quantas pessoas não estão por ai, principalmente depois dessa pandemia, sem casa, sem comida, sem emprego, dependendo dos outros, em situações precárias, quantas pessoas não estão ai internadas em estágio terminal com vários tipos de doenças?! Então vamos botar a mão na consciência e agradecer, aceitar os planos de Deus em nossas vidas!"
Gente, essas palavras dele foram o bálsamo que eu pedia a Deus naquele momento e todos os dias me lembro delas. 
Desejo de todo coração que cada uma receba seu sonhado positivo e que tenham uma gestação tranquila e cheia de Deus.
Sigo com o coração doído, mas grato a Deus por tudo!
Beijos férteis em todas!


Querida Lu, você está sempre em meus pensamentos. É de grande ensinamento para mim ver a enorme força interior que você tem e encontrar sempre motivação para seguir adiante. Admiro também imensamento a coragem de escrever tua história e a tua buscar pela maternidade.

Sonho com o dia que poderia escrever o o tão esperado relato de positivo da Luzia. Espero poder escrever esse lindo relato em 2021. Aguardem! ❤

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Palavras-chaves: relato, tentante, aborto, perda gestacional, GE, gestação ectópica, metotrexato, FIV, endometriose, trombofilia.

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