segunda-feira, 12 de julho de 2021

Relato de positivo - Marielle (G2)

Você já se perguntou quanto tempo vale a pena esperar?

E se uma mulher te dissesse que tentou engravidar por 9 anos e meio mas que viveria cada segundo novamente só pra ter seus filhos no ventre? 

A história da luta da Marielle contra a infertilidade tem tantas voltas e reviravoltas que parece uma novela. Como sempre essa história começa com o clássico médico prescrevendo anticoncepcional para um problema que não se trata com esse medicamento! E só atrasa o sonho da mulher de se tornar mãe. Quantos anos, quantos profissionais  e principalmente, quanto empoderamento pessoal é necessário para se chegar até essa quantidade de diagnósticos, tratá-los e finalmente alcançar o tão almejado positivo? Por que tem que ser tão difícil, financeiramente e emocionalmente custoso?

Vejo tanta vitória na vida dessas mulheres que resolveram ser protagonistas da própria história e tomar as rédeas da sua fertilidade.

Essa é uma linda história, que conta sobre a árdua jornada da mãe de dois bebês arco-íris e sua luta contra a infertilidade. Eles crescem lindamente e em breve irão estrear nesse mundão trazendo muito amor. 

 ❤


“Tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais...”

Minha história com a infertilidade começou quando eu tinha 16 anos e fui diagnosticada com SOP. Era só uma menina descobrindo o próprio corpo e que tinha ciclos totalmente irregulares desde a menarca. Eu não tentava engravidar nessa época, mas sempre digo que foi aí que a luta começou. Minha primeira ginecologista quando soube que eu estava há 6 meses sem menstruar jurava que eu estava grávida, não queria pedir os exames investigativos, então coube a mim convencê-la que eu não tinha a menor possibilidade de estar grávida e queria sim que ela me ajudasse entender o que estava acontecendo. Foi então que ela aceitou pedir uma série de exames e o meu primeiro diagnóstico veio como uma bomba: "- Você tem SOP e vai ter muita dificuldade para engravidar. Vou te passar um anticoncepcional para tratar." Na época meus pais não concordaram com o tratamento (graças a Deus) e eu não tomei. 

Conheci o amor da minha vida em 2011, aos 19 anos. Nos casamos após 4 meses de namoro. Tanto eu quanto meu marido sempre tivemos o sonho de sermos pais novos. Com 9 meses de tentativas comecei a procurar médicos e o “tratamento” era sempre o mesmo: anticoncepcional. Até que me rendi e resolvi tomar. Bastou uma cartela pra eu ter escapes todos os dias além de uma dor de cabeça insuportável. Parei por conta própria e decidi que à partir daquele dia eu iria estudar e ser protagonista da minha própria história com a infertilidade.

Mudei de cidade em 2014 e já praticamente craque em SOP fui em busca de médicos que me ajudassem no tratamento. Descobrimos que meu marido tinha uma leve alteração de quantidade e motilidade dos espermatozoides, então ele iniciou as vitaminas e eu com diagnóstico de Resistência à Insulina comecei a tomar glifage. Em 2015, 3 meses após o início desse tratamento engravidei. Eu descobri o que era felicidade de verdade no dia 19/01/15 no momento que descobri que meu primeiro filho estava ali comigo. Mas na mesma velocidade que eu fui ao céu, levei uma rasteira e desabei. Meu primeiro filho não tinha mais batimentos cardíacos e eu precisava de uma curetagem. Eu entrei para o centro cirúrgico aos prantos e só me lembro de gritar pro médico que eu sonhava em entrar ali pra tirar meu filho e levar pra casa, mas eu estava saindo com o colo vazio, deixando ele ali sem vida. 

Minha curetagem foi complicada, a recuperação ainda pior. Precisei passar por uma internação 3 dias depois, pois eu não aguentava nem andar de dor. Depois fiquei com sangramento durante 80 dias ininterruptos e com episódios de hemorragia. Nada era descoberto e nenhum remédio resolvia. Quando de repente parou sozinho e voltamos às tentativas. 

Voltei com todo o tratamento da SOP e além disso insistindo com os médicos uma investigação de endometriose. Eu tinha CERTEZA que tinha devido aos sintomas (já marquei check list em quase todos). Os médicos se negavam a investigar porque eles ACHAVAM que eu não tinha. Fiquei 4 anos nessa luta sem sucesso, cheguei a ir em especialistas no assunto na minha cidade e a resposta era sempre não. Então eu cansei e mesmo inconformada aceitei que às vezes eu não tinha mesmo e estava ficando doida. Larguei a história de endometriose de lado e encasquetei com Trombofilia. Já tinha se passado 4 anos da perda do meu primeiro filho, meu único argumento com os médicos era: eu estou demorando muito para engravidar novamente, não quero correr o risco de perder outro filho por não ter um diagnóstico fechado. Mas como vocês já sabem fui ignorada até encontrar uma médica que resolveu me pedir 4 exames de trombofilia. Eu não entendia tanto do assunto e fiz só esses, como não deram nada, fiquei tranquila. Alguns meses depois com SOP controladíssima, dieta de dar orgulho e suplementação correta tive o meu segundo positivo. Meu bebê arco íris estava a caminho. Eu não consigo descrever o que senti quando vi o meu beta positivo. Eu estava totalmente em paz, pois não tinha como dar errado. Um raio não cai duas vezes na mesma pessoa. Mas aí que o tombo foi maior, meu céu de arco íris virou tempestade de novo. Eu não conheço um silêncio mais ensurdecedor que o do coração de um filho sem batimentos. Eu entrei em negação, achava impossível estar acontecendo tudo aquilo de novo, passava dias e noites chorando, desenvolvi síndrome do pânico. Em termos de saúde física pós aborto eu fiquei bem, não precisei de curetagem, não senti dor, não tive sangramento exagerado. Porém psicologicamente eu me afundei. 

Mas teve um certo momento que eu renasci das cinzas. Juntei todos os meus cacos e levantei pq eu devia isso aos meus filhos. A perda do meu primeiro filho foi a transformação de menina pra mulher, a perda do segundo foi a REVOLUÇÃO! Eu peguei a lista de todos os GOs do convênio e marquei consulta um por um. Peguei uma lista completa de exames e fui acumulando guias para fazer todos. Até de doida eu fui chamada por um médico. Mas não me abalei e consegui toda a investigação. E então descobri não apenas uma trombofilia, e sim 3. Protocolo em mãos, fomos pra mais alguns meses de tentativas sem sucesso. 

Entrei direto no G2 no final de 2019, quando estava querendo voltar a fazer o método sintotermal. Depois de meses com gráficos lindos, mas sem positivo, a pulguinha da endometriose começou a coçar de novo e lá vai eu bater boca com médico de novo. Minha histerossalpingografia já indicava um útero totalmente lateralizado, o que era indício ainda mais forte da endo. E como já devem imaginar, além dos focos de endometriose também descobri 2 endometriomas. Além disso foi quando descobri que tenho útero arqueado. 

Adaptei a dieta para antiinflamatória e resolvemos tentar coito programado. Nossa decisão era de que se não desse certo, iríamos para a FIV. Estávamos cansados e seriam nossas últimas alternativas. Nesse meio tempo eu fui diagnosticada com DIP (doença inflamatória pélvica) e logo em seguida com endometrite. Tratei e deu tudo certo.  O espermograma anterior do meu marido estava dentro do aceitável, então só começamos o coito. Eu tinha certeza que dessa vez acertariamos, afinal não tinha mais nenhuma aresta a ser aparada. Enfim, nenhum ciclo positivo, e eu desabei, pois ainda tinha esperança que o positivo viria sem FIV. Já tinha passado por 6 especialistas em reprodução humana, de cidades diferentes e era unânime: meu caso só a FIV poderia resolver. Foi relativamente difícil ouvir de cada um deles esse “veredito”, mas aos poucos fomos nos preparando para o procedimento.

Prontos para a FIV, marido repetiu o espermograma e o resultado nos assustou. Baixíssima quantidade, motilidade e vitalidade. Fomos ao urologista que pediu um US e assim veio o diagnóstico de varicocele. Então ele começou a usar clomid e continuou com a fórmula Thor que já tomava. Depois de 4 meses o espermograma já estava dentro do parâmetro aceitável para FIV e então decidimos começar.

No último ciclo antes da FIV resolvi colher um exame de células nk pra me certificar de que tava tudo bem e o resultado veio 10,7%. Consultei o Dr Leonardo que me passou todo o protocolo de tratamento.

Iniciei a FIV na Semear com uma contagem de folículos em 41 (a maior da minha vida). Com 3 dias de estimulação comecei a passar mal com muita dor de cabeça e enjoos. 3 dias antes da minha coleta comecei a ter febre e veio a suspeita de COVID, fiquei desesperada. Consegui fazer um swab, mas devido a demora do resultado precisamos adiar em um dia a coleta e ai bateu o medo enorme de acabar ovulando antes. O resultado saiu e não era covid, mas eu só piorava. Um dia antes da coleta eu passei o dia no hospital e o diagnóstico era dengue. Minha viagem para Ribeirão estava marcada pra 18h e eu sai do hospital às 17h. Viajamos ainda na incerteza se seria possível fazer a coleta. Tive que fazer um hemograma 1h antes da coleta para saber como estavam as plaquetas. Cheguei na clínica já sem conseguir andar de tanta dor e fui direto para o centro cirúrgico esperar a autorização da coleta. Hemograma saiu e coleta autorizada. Começamos o procedimento, quando acordo da sedação tenho a notícia que haviam captado apenas dois óvulos e eu quase desmaiei. O médico veio me explicar que tiveram muita dificuldade e então decidiram esperar 1h para me sedar novamente e tentar captar o que ficou. Segunda tentativa 35 óvulos captados, mas pra isso precisaram perfurar a minha bexiga (procedimento “comum” em casos parecidos com o meu). Passado esse perrengue começaram a aparecer as noticias boas. Dos 37 óvulos, 35 eram maduros e 32 foram fertilizados. E 6 dias depois o nosso total de 12 blastocistos.

Tive indicação de bloqueio hormonal por causa da endometriose, mas eu não quis. Estávamos muito cansados e decidimos arriscar sem o bloqueio. Decidi descansar um ciclo antes da TEC. Em março quando fui me preparar para a transferência descobri um presente que a estimulação me deixou: mais 3 endometriomas. No momento eu desesperei e pensei até em cancelar. Meu marido me deu o maior apoio pra não desistir, ele disse que confiava muito em tudo que eu estava fazendo pra controlar a endometriose e pediu que eu não desistisse de transferir nesse ciclo. Resolvi ouvi-lo e manter o programado. Preferi o preparo natural, acompanhei a ovulação com exames de sangue, ultrassom e testes de ovulação. No dia da ovulação fiz aplicação de Lipofundin. Depois de confirmada a ovulação iniciei utrogestan, clexane, reuquinol e predsim. Dia 30/03/2021 fizemos nossa transferência de dois embriões 3AA. Eu não consigo descrever em palavras a emoção desse dia. Depois da TEC fiz tudo que diziam que era bom kkk Suco da TEC, escalda pés, oléo essencial de lavanda pra todo lado, physalis, meia nos pés. Eu queria pecar pelo excesso mesmo kkkk Entre a TEC e o beta existe uma eternidade de 9 dias, uma montanha russa de sentimentos, mas eu não aguentei e fiz no meu D8, um dia depois do aniversário do meu marido. Beta lindo de 228 e caímos no choro de muita emoção. Deu certo de primeira. Dia 07/04/2021 também foi um dos dias mais felizes de toda a minha vida e eu digo também pq o positivo da minha amiga Renata G. foi algumas horas antes do meu. E a ela eu devo muita gratidão. Ela que sempre me ajudou e me levantou quando caí. Sonhávamos em ir para o G3 juntas e viver essa fase ao lado dela está sendo incrível.

Entre o beta e o ultrassom foi outra eternidade até saber se os dois embriões tinham implantado. No primeiro ultrassom com 5s vimos dois sacos gestacionais e uma semana depois vimos os dois embriões com seus corações batendo forte. Foi a realização de um sonho, há tantos anos eu esperava por esse som e ele veio logo em dobro. Agora temos um arco íris duplo.

Eu queria abrir um espaço para agradecer o meu marido que sempre foi a razão por eu nunca desistir. Eu não vejo a hora dos nossos filhos saírem correndo pela casa chamando esse homem maravilhoso de pai. Agradeço também aos meus filhos que partiram, eles cumpriram a missão deles aqui comigo, eles me transformaram, salvaram a minha vida e a dos irmãozinhos que estão vindo.

Queria dizer que esse grupo salva e tenho eterna gratidão pela Anne tê-lo criado. Agradeço também as amigas que fiz aqui e que foram essenciais nessa jornada, sem vcs eu nada seria: Gabi Mesquita, Andreza, Fernanda e Tati que estão no G4; Aline, Ana Cristina, Ana, Lili, Vic e Re no G3; Camyla, Yara (meus dois anjos), Cinara, Nadine, Nanda, Raquel, Maraísa, Daiane, Mariana e Gabi Meyer que eu espero ansiosamente no G3, tenho certeza que vou recebê-las em breve. 

E a todas vocês que estão aqui eu imploro: NÃO desistam! A caminhada é longa, cansativa, cheia de obstáculos, mas no momento que vc vê aquele beta positivo, o coração batendo na tela do ultrassom, TUDO vale a pena. Foram 9 anos e meio de tentativas, altos e baixos, mas eu viveria cada segundo novamente só pra ter os meus filhos comigo. 

Diagnósticos: SOP, Endometriose, Endometriomas, células NK, Trombofilias (SAF, fator V de Leiden e MTHFR no alelo C677T), DIP, Endometrite, útero arqueado, varicocele.

Protocolo na gestação: 

  • Clexane 60mg 
  • Reuquinol 400mg
  • Predsim 20mg
  • Lipofundim
  • Glifage 1500mg
  • Utrogestan 600mg
  • AAS 100mg
  • Cálcio 1000mg
  • Ferro 30mg
  • Sophia Suprema
  • Omega 3

Palavras chave: relato, positivo, gravidez, gêmeos, FIV, bebê arco-íris, método sintotermal, gráfico, temperatura basal, SOP, Resistência à Insulina, Glifage, metformina, Endometriose, Endometriomas, células NK, Trombofilias (SAF, fator V de Leiden e MTHFR no alelo C677T), dieta antiinflamatória, coito programado, Endometrite, útero arqueado, varicocele,  aborto, curetagem, hemorragia, DIP (doença inflamatória pélvica), fórmula Thor, fórmula Sophia, Covid, Lipofundin, utrogestan, clexane, reuquinol, predsim, physalis.

Beta HCG, teste de gravidez, foto e Ultrassom da Marielle.

 




ATENÇÃO:

As opiniões acima possuem caráter meramente informativo e não substituem a consulta com um médico e ou nutricionista.

O relato acima representa a opinião da autora do mesmo e não da administração do blog.

Não é finalidade deste blog a análise ou emissão de qualquer tipo de diagnóstico às usuárias, tarefa esta reservada unicamente ao seu respectivo médico ou nutricionista de confiança.

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