A jornada para a maternidade pode ser desafiadora, especialmente quando obstáculos inesperados como desequilíbrios hormonais surgem no caminho. Mulheres que sonham em engravidar, as "tentantes", enfrentam muitas vezes um inimigo silencioso: a predominância estrogênica. Este fenômeno, caracterizado por um desequilíbrio entre os níveis de estrogênio e progesterona, pode ser um fator complicador na busca pela concepção.
Neste post, mergulharemos fundo nos intricados padrões hormonais, esclarecendo como uma alteração no equilíbrio delicado entre estrogênio e progesterona pode influenciar a fertilidade. Também compartilharei dicas vitais e orientações para restabelecer o equilíbrio hormonal e dar passos largos em direção à gravidez saudável e esperada.
O Papel do Estrogênio e da Progesterona na Fertilidade
O estrogênio e a progesterona desempenham papéis essenciais no ciclo menstrual. O estrogênio estimula o crescimento do revestimento uterino (endométrio) durante a primeira metade do ciclo, enquanto a progesterona, produzida após a ovulação, estabiliza o endométrio para facilitar a implantação do embrião. Um desequilíbrio entre esses dois hormônios pode criar condições adversas para a concepção.
Estatística Importante:
Estima-se que disfunções ovulatórias, frequentemente decorrentes de desequilíbrios hormonais, sejam responsáveis por aproximadamente 21% a 25% dos casos de infertilidade em mulheres, sendo a predominância estrogênica um dos mais comuns.
Padrões Hormonais e a Fertilidade
Entender os diferentes padrões hormonais é crucial para decifrar as questões de fertilidade:
- Padrão Saudável: Os níveis de estrogênio e progesterona estão ótimos e em equilíbrio, promovendo um ambiente reprodutivo favorável.
- Estrogênio alta: Níveis de estrogênio estão aumentados enquanto a progesterona permanece a mesma, resultando em desequilíbrio.
- Progesterona baixa: Estrogênio está ótimo, mas a progesterona está diminuída, também criando um desequilíbrio.
- Combinação de estrogênio alto + progesterona baixa: Ambos estrogênio e progesterona estão fora dos níveis ótimos, representando um desequilíbrio significativo.
Entendendo a Predominância Estrogênica
A predominância estrogênica pode se apresentar de diferentes formas:
- Quando o estrogênio está ALTO e a progesterona está baixa ou normal, isso pode levar a um quadro clínico que dificulta a implantação do embrião.
- No caso do estrogênio NORMAL e progesterona baixa, a janela de implantação pode ser afetada, impactando as chances de gravidez.
- Se ambos, estrogênio e progesterona estão BAIXOS, com a progesterona ainda mais baixa, o suporte para a gravidez inicial pode ser insuficiente, podendo resultar em uma perda gestacional (aborto).
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Padrões de predominância estrogênica. Fonte: Dr Tara Burke. |
Revertendo a Predominância Estrogênica: Estratégias e Dicas
Aqui estão as melhores dicas para reverter a predominância estrogênica e melhorar suas chances de engravidar:
- Nutrição estratégica: Foque em alimentos que apoiam o metabolismo do estrogênio e melhore a saúde intestinal, como fibras e probióticos.
- Gerenciamento do estresse: Aprenda técnicas de relaxamento e considerar terapias como a ioga e meditação para reduzir os níveis de cortisol.
- Atividade física: Exercícios regulares podem ajudar a equilibrar os hormônios e a manter um peso saudável, crucial para manter os níveis hormonais ótimos.
- Evitar disruptores endócrinos: Minimize a exposição a xenoestrogênios encontrados em plásticos, cosméticos e pesticidas. Opte por cosméticos naturais, com selos orgânicos e óleos essenciais que podem ajudar tanto a tua pele quanto os teus hormônios.
- Suplementação e medicina integrativa: Considere suplementos como o DIM (Diindolylmethane) e ervas como Vitex que podem ajudar a balancear os níveis hormonais, mas sempre sob orientação médica.
- Monitoramento e testes: Mantenha um diálogo aberto com seu médico, fazendo testes regulares para monitorar e ajustar os níveis hormonais conforme necessário.
- Evitar anticoncepcionais hormonais: Discuta alternativas de contracepção não hormonal com seu médico para evitar a influência destes no equilíbrio hormonal. DIU de cobre, método de Billings e método sintotermal são ótimas alternativas.
Fitoterápicos e suplementos para equilibrar hormônios
Baseando-se nas orientações da Dra. Tara Burke, aqui estão os principais aliados naturais para restaurar o equilíbrio hormonal:
- Black Cohosh (Cimicifuga racemosa)
- Auxilia na redução de sintomas da menopausa, como ondas de calor.
- Pode regular ciclos e minimizar sintomas associados ao estrogênio elevado.
- Uma revisão sistemática publicada no American Journal of Obstetrics and Gynecology avaliou a segurança do Black Cohosh e concluiu que, embora geralmente seguro, é necessário cautela devido a relatos de efeitos adversos hepáticos.
- Liske, E., et al. (2002). "Clinical efficacy and safety of a unique extract of black cohosh root (Remifemin): a hormone-free alternative to hormone replacement therapy." Obstetrics & Gynecology, 99(2), 389-395.
- Maca (Lepidium peruvianum)
- Um adaptógeno poderoso para melhorar a saúde hormonal.
- Contribui para o aumento da fertilidade e equilíbrio dos hormônios femininos.
- Uma revisão publicada no Food & Function destacou os efeitos medicinais da Maca, incluindo melhorias na função sexual e na fertilidade.
- Gonzales, G. F., et al. (2014). "Maca (Lepidium meyenii Walp), a review of its biological properties." Revista Peruana de Medicina Experimental y Salud Pública, 31(1), 15-25.
- Kava (Piper methysticum)
- Eficaz no alívio da ansiedade e na redução de sintomas da menopausa.
- Pode melhorar a qualidade do sono e promover relaxamento, essencial para tentantes.
- Uma revisão sistemática publicada no Cochrane Database of Systematic Reviews concluiu que o Kava é eficaz no tratamento da ansiedade, mas recomenda cautela devido a potenciais efeitos hepatotóxicos.
- Pittler, M. H., & Ernst, E. (2003). "Kava extract for treating anxiety." Cochrane Database of Systematic Reviews, (1), CD003383.
- DIM (Diindolilmetano)
- Ajuda no metabolismo saudável do estrogênio, reduzindo seus níveis excessivos.
- Suporta o equilíbrio hormonal e a saúde do fígado.
- Um estudo publicado no Journal of Nutrition demonstrou que o DIM modula o metabolismo do estrogênio, potencialmente reduzindo o risco de cânceres hormônio-dependentes.
- Indole-3-Carbinol Is a Negative Regulator of Estrogen. The Journal of Nutrition, v. 132, n. 6, p. 1340-1346, 2002.
- Effect of Diindolylmethane on Estrogen-related Hormones, Metabolites, and Biomarkers of Breast Cancer Risk: A Randomized Controlled Trial. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, v. 26, n. 3, p. 435-442, 2017.
- Vitex (Vitex agnus-castus)
- Regula os ciclos menstruais e promove níveis saudáveis de progesterona.
- Ideal para mulheres com fases lúteas curtas.
- Uma revisão publicada no Planta Medica destacou a eficácia do Vitex no tratamento de distúrbios menstruais e da síndrome pré-menstrual.
- Wuttke, W., et al. (2003). "Chaste tree (Vitex agnus-castus)--pharmacology and clinical indications." Phytomedicine, 10(4), 348-357.
Estudos científicos que apoiam essas estratégias:
- DIM e metabolismo do estrogênio: Um estudo publicado no Journal of Nutrition mostrou que o DIM ajuda a promover a eliminação de metabólitos de estrogênio prejudiciais, reduzindo a predominância estrogênica.
- Indole-3-Carbinol Is a Negative Regulator of Estrogen. The Journal of Nutrition, v. 132, n. 6, p. 1340-1346, 2002.
- Effect of Diindolylmethane on Estrogen-related Hormones, Metabolites, and Biomarkers of Breast Cancer Risk: A Randomized Controlled Trial. Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, v. 26, n. 3, p. 435-442, 2017.
- Magnésio e ansiedade hormonal: Pesquisa no Journal of Research in Medical Sciences evidenciou que a suplementação de magnésio melhora os sintomas de ansiedade relacionados ao ciclo menstrual.
- Fonte: The Effects of Magnesium Supplementation on Subjective Anxiety and Stress—A Systematic Review. Nutrients, v. 9, n. 5, p. 429, 2017.
- Magnesium in Prevention and Therapy. Nutrients, v. 7, n. 9, p. 5388-5406, 2015.
- Impacto da dieta no estrogênio: Uma revisão no American Journal of Clinical Nutrition destacou que uma dieta rica em fibras pode reduzir os níveis de estrogênio em até 30%.
Identificando os Sintomas da Predominância Estrogênica
É crucial reconhecer os sinais da predominância estrogênica, pois os sintomas podem não só afetar a qualidade de vida diária, mas também fornecer pistas importantes para esse desequilíbrio hormonal. Entre os sintomas mais comuns, incluem-se:
- Diminuição da libido: Uma queda no desejo sexual pode ser um dos primeiros sinais de que os níveis de estrogênio estão desproporcionais em relação à progesterona.
- Sintomas de TPM: Se você está experienciando sintomas pré-menstruais mais intensos, isso pode ser um indicativo de que o estrogênio está em excesso.
- Ciclos irregulares: A irregularidade menstrual é um sinal clássico de que algo está desbalanceado no sistema reprodutivo.
- Mudanças de humor: Flutuações inesperadas de humor, incluindo irritabilidade ou depressão, podem ser sintomáticas de níveis hormonais anormais.
- Dificuldade de concentração: Dificuldades cognitivas como perda de foco ou "brain fog" são frequentemente relatadas por mulheres com predominância estrogênica.
- Inchaço: O acúmulo de líquidos e a sensação de inchaço podem ocorrer devido à influência do estrogênio no equilíbrio de fluidos e sódio.
- Fogachos: Comuns durante a perimenopausa, os fogachos também podem ser experimentados por mulheres com níveis elevados de estrogênio.
- Sensibilidade mamária: Seios doloridos e sensíveis fora do ciclo menstrual normal podem ser um sinal de alerta.
- Ganho de peso: O aumento de peso inexplicado, especialmente na região abdominal, pode estar associado ao desequilíbrio hormonal.
- Insônia: Dificuldades para dormir ou manter o sono podem estar ligadas aos altos níveis de estrogênio.
- Acne: As temidas "espinhas" podem estar relacionadas tanto ao estradiol alto quanto à progesterona baixa. Entenda mais sobre isso abaixo.
Reconhecer esses sintomas é um passo fundamental para buscar ajuda e iniciar o caminho para o reequilíbrio hormonal. Se você está enfrentando esses sinais, é aconselhável discuti-los com seu médico. Um plano de ação pode incluir desde mudanças no estilo de vida e dieta até intervenções médicas específicas, como a terapia de reposição hormonal bioidêntica ou o uso de moduladores seletivos do receptor de estrogênio.
Curiosidade:
Estudos mostram que o estrogênio elevado pode reduzir os níveis de magnésio no corpo, piorando sintomas como insônia e ansiedade.
A Acne como Sintoma da Predominância Estrogênica
A acne pode ser um sintoma revelador de desequilíbrios hormonais, e na predominância estrogênica, ela apresenta características distintas:
- Acne relacionada à progesterona baixa: É comum que as espinhas piorem logo antes do período menstrual, especialmente no queixo, mas também podem aparecer nas bochechas ou na testa. Durante a fase pré-menstrual do ciclo, a progesterona tem uma queda acentuada, o que pode causar acne. Este tipo de acne geralmente surge junto com outros sintomas de TPM, como alterações de humor, irritabilidade, distúrbios do sono, sensibilidade mamária ou inchaço. É importante notar que esse padrão pode coexistir com a predominância estrogênica.
- Acne relacionada ao estrogênio alto: Esse tipo de acne tende a aparecer na primeira metade do ciclo menstrual, ou em torno do tempo de ovulação, quando ocorre um pico no nível de estradiol. Um aparecimento repentino de acne durante esse período podem ser um sinal de que o estrogênio está elevado em relação à progesterona.
A acne hormonal pode ser particularmente frustrante, pois muitas vezes resiste a tratamentos típicos de acne e pode exigir uma abordagem mais focada no equilíbrio hormonal para ser efetivamente gerenciada. Tratamentos podem incluir ajustes na dieta, suplementação específica e, em alguns casos, medicamentos prescritos por um profissional de saúde.
Minha experiência com a predominância estrogênica:
Gostaria também de compartilhar a minha experiência pessoal com a predominância estrogênica.
Em 2014, fiz uma escolha que mudaria minha vida: parei de tomar a pílula anticoncepcional Diclin, minha fiel companheira por quase seis anos. Eu a adorava — não só pelo preço acessível, mas pelos benefícios incontestáveis. Ela me ajudou a emagrecer, me deu uma pele livre de espinhas, cabelos sem oleosidade, menstruações regulares e sem cólicas. E o bônus: um escudo eficaz contra uma gravidez não planejada, já que, casada desde dezembro de 2011, eu ainda tinha um caminho a percorrer na faculdade e muitos desafios — físicos, financeiros e emocionais — para superar.
No entanto, a conscientização sobre os riscos de trombose e embolia, frequentemente associados ao uso prolongado de anticoncepcionais orais, me fez reavaliar minhas escolhas e acabou por me despertar para a realidade dos perigos que eu ignorava. Quanto mais eu pesquisava, mais preocupada ficava. Eu estava numa encruzilhada: abandonar os benefícios que tanto prezava ou ignorar os riscos que começavam a me assombrar? Apesar de ter um estoque de pílulas em casa, decidi que após consumir as últimas três cartelas, buscaria alternativas.
Foi durante um momento banal — um dia qualquer no provador de uma loja — que a decisão foi tomada. Vasinhos vermelhos despontavam em minha pele, como pequenos rios em um mapa. Nas pernas, alguns mais proeminentes, sinais claros de alerta. Como pude não notar antes? Seria a iluminação do local ou a minha própria cegueira?
Com a decisão firme, e após consumir o estoque restante de pílulas, abracei o método sintotermal e o aplicativo Fertility Friend. Tornei-me uma observadora atenta do meu próprio corpo, registrando minha temperatura basal e mapeando meu ciclo.
Implementei mudanças radicais: revolucionei minha dieta, incorporei exercícios à minha rotina e estabeleci o sagrado ciclo de 8 horas de sono.
Mas algo não estava certo. A fase lútea, aquele período crucial pós-ovulação, era consistentemente breve — 12 dias, talvez 13, durante todo o ano de 2014 e 2015. Em 2016, a preocupação cresceu quando diminuiu para 11 dias. Os sintomas de predominância estrogênica eram claros:
- Acne que desafiava qualquer tratamento (vitaminas, minerais ou cremes tópicos)
- Ganho de peso (gordura) em áreas específicas do corpo (quadril e coxas, um local bem específico que indica predominância estrogênica)
- Compulsão alimentar
- Ansiedade quase palpável
Então, em 2017, aconteceu o inesperado: fiquei grávida! Foi realmente uma surpresa, pois eu não estava tentando. Mesmo com uma fase lútea curta e suspeita de baixa progesterona, fui abençoada com um filho saudável. E em 2021, repeti a dose: grávida novamente, com progesterona inicialmente baixa (20,04 ng/mL), onde suplementei com Utrogestan, mas com uma gestação tranquila.
Esta é minha mensagem de esperança: sim, é possível engravidar e ter uma gravidez saudável mesmo com predominância estrogênica. Que minha história inspire outras mulheres a não desistirem do sonho da maternidade.
Conclusão:
O caminho para a concepção é muitas vezes marcado por descobertas e desafios, onde o equilíbrio hormonal desempenha um papel central. A predominância estrogênica, com suas variadas facetas, pode ser um obstáculo significativo, mas não é intransponível. Com um entendimento claro dos padrões hormonais e como eles afetam a fertilidade, é possível adotar estratégias eficazes para reequilibrar o sistema endócrino.
A nutrição não apenas alimenta o corpo mas também pode ser uma aliada poderosa na regulação hormonal, fornecendo os blocos construtivos necessários para a produção hormonal adequada. Juntamente com a atividade física e o gerenciamento do estresse, estes aspectos formam a tríade fundamental para um estilo de vida que promove o equilíbrio hormonal.
A suplementação e a medicina alternativa oferecem caminhos adicionais que, com a devida orientação médica, podem complementar as mudanças de estilo de vida para reequilibrar os níveis hormonais. A colaboração contínua com profissionais de saúde, através de monitoramento e testes, é essencial para garantir que qualquer intervenção seja segura e eficaz.
Além disso, é importante reconhecer que cada corpo é único. O que funciona para uma pessoa pode não ser a solução para outra. Portanto, a paciência e a persistência são virtudes indispensáveis nessa jornada. Ajustes finos no plano de tratamento podem ser necessários e, para isso, a comunicação honesta e aberta com os profissionais de saúde é vital.
Reverter a predominância estrogênica é mais do que apenas ajustar números em um teste laboratorial; trata-se de restaurar a harmonia ao corpo e criar um ambiente propício à vida. Com as escolhas certas, orientação especializada e um compromisso com o autocuidado, o sonho da maternidade pode se tornar uma realidade palpável.
Aqueles que trilham esse caminho não devem fazê-lo sozinhos. O apoio de parceiros, familiares, amigos e grupos de apoio pode fornecer a força emocional necessária para enfrentar os desafios e celebrar os sucessos. A jornada para equilibrar os hormônios e melhorar a fertilidade é complexa, mas repleta de esperança e possibilidades. Mantenha a resiliência e a esperança como suas companheiras constantes e confie no processo que leva ao objetivo final: uma família saudável e feliz.
Fonte: Supplements to Balance Hormones - Dr Tara Burke